Você não me quer livre

10815759_10154820480915363_1488203001_nEu demorei muito tempo pra alcançar a liberdade sexual que eu tenho hoje. Aquela que você, homem, aprendeu a ter desde sempre. Você não sabe como é querer dar pra alguém de primeira e se preocupar com o que as pessoas vão achar. Vou resumir em três palavras: é uma merda. Porque sexo é bom, todo mundo gosta e todo mundo quer fazer sempre. Mas eu fui ensinada a “me dar o respeito”, a não ficar com um monte de gente, a casar virgem. A questão aqui não é essa. Eu já me libertei disso e você já tá bem avançadinho no debate do feminismo. Você acha lindo, você é pró-feminista, você entende a importância da liberdade sexual das mulheres, você apoia. A questão aqui é: quanto do seu discurso você coloca em prática?

Eu te pergunto isso por um motivo em especial: ninguém nunca se apaixonou por mim (e se você acha que eu estou escrevendo esse texto por recalque disso, por “falta de homem” ou algo do tipo, só vaza. Esse texto não é pra você. Você ainda não entendeu nem o básico do básico). E eu também nunca tinha me apaixonado por ninguém, e até aí ok. A questão central é: meus últimos três ou quatro relacionamentos começaram com uma foda. Uma bela foda. Não teve joguinho antes, não teve “conquista”. Foi papo reto. Nos pegamos e fomos direto pro motel – inclusive, eu que chamei. Nada de errado até aqui. Todos esses relacionamentos duraram alguns meses. Um rolou por quase um ano. E daí? Daí que o tempo passa e eu começo a curtir o cara. E ele não. Ele perde o interesse. Ele não se apaixona. Eu pararia por aqui (ou, na verdade, nem escreveria esse texto) se eu achasse simplesmente que eu sou desinteressante. Não é o caso. E pode parecer arrogância, mas eu demorei muito tempo pra conseguir levantar minha auto estima, então foda-se você se você acha que é arrogância. É só a constatação do fato de que eu sou foda.

Antes de continuar, vou fazer um adendo. Desde que eu alcancei a tal da liberdade sexual (que é incrível, por sinal), eu sou solteira. Eu queria aproveitar essa liberdade, não ficar com um cara só, aquela coisa que você, homem, já conhece bem. Mas depois de alguns anos solteira, eu comecei a querer algo mais sério. Só porque sim. E aí começou essa sequência de três ou quatro relacionamentos que começaram e acabaram de forma parecida. No começo, aquela bela foda; no fim, uma bela mulher fodida.

Agora voltando: é, eu sou foda. Mas eu duvidei disso por muito tempo. E o que eu ouvi de um desses moços é que ninguém ter se apaixonado por mim não quer dizer que eu não sou apaixonante (o que, segundo ele, eu sou), só quer dizer que eu “não sei jogar”. Aí eu fico pensando aqui. Se a gente não tivesse transado de cara, se eu tivesse feito charme, deixado (e ficado!) na vontade, será que ele teria se apaixonado por mim? Sinceramente, acho até provável. A questão é que eu não jogo. Eu odeio joguinho. Eu lanço o papo reto e quem querer quereu. Porque eu não curto adiar orgasmo. Mas será que eu troquei um ~amor~ por seis meses do melhor sexo da minha vida?

Aí eu tenho uma pergunta: por que uma coisa exclui a outra? Você vai dizer que não, que só não rolou, sei lá, não era pra ser. Você, por exemplo, não liga pra essas coisas, você não faz aquela famosa divisão das mulheres entre mulher pra casar e mulher pra comer. Ok, aceito que no discurso você não faz mesmo. Mas será que você desconstruiu isso, assim, de verdade? Mesmo, mesmo? Porque uma coisa é fato. Quando isso deixa de ser determinante pra você (não) se apaixonar por alguém, você, homem, acabou de perder um privilégio. Simples assim, puf, cabô. E você odeia isso. Lá no fundo, eu sei que você odeia. Por mais inconsciente que seja, por mais que você diga que seus privilégios têm que acabar, por mais que você defenda a igualdade de gêneros, você odeia perder privilégios.

Pois bem, poder transar livremente com quem você quiser sem que isso te coloque automaticamente na categoria do “não presta” é legal né? Você gosta e tal. Isso não deveria nem ser uma questão, e pra você, de fato, nunca foi. Mas eu comecei a perceber que a minha liberdade sexual deixa os homens desconfortáveis. Vocês não estão prontos pra um relacionamento de igual pra igual, sem macho alfa. Algumas mulheres perceberam isso antes de mim, e aí o que elas fazem? Jogam. Elas se reprimem e se comportam como acham que devem pra você, homem, não carimbá-las com um pra comer. Mas ela não deveria se sentir na obrigação de fazer isso.

Desde que eu entendi que posso dar pra quem eu quiser quando eu quiser, a minha política foi a de cagar pra esses joguinhos e pros homens que queriam esses joguinhos. Eu pensava “bom, se você acha isso, você é um machistinha de merda, vlw flws. Vou achar alguém que não seja”. Aí eu vi você, homem pró-feminista super avançado no debate, querer a mesma coisa que aqueles machistinhas de merda. E entendi que por mais que você se esforce pra entender as pautas feministas, por mais que você apoie, o machismo não te deixa ignorar essas coisas. Mesmo que você nem perceba, essas coisas são determinantes na hora de você escolher com quem vai se relacionar e como. No fim das contas, você não vai se apaixonar por mim porque a minha liberdade te ameaça. Eu, que fui criada pra ser sexualmente submissa e pra servir como seu objeto de prazer, agora sirvo às minhas próprias vontades, aos meus próprios desejos. Eu não te sirvo, então você não me quer.

É importante lembrar, porém, que tudo isso é construção social, o que significa que pode ser desconstruído. Você, que já desconstruiu várias coisas no discurso, tem a opção (e o dever) de desconstruir na prática. Mas como? É foda. Ainda mais se levarmos em conta que se apaixonar não é algo racional. Então como controlar?

Amigo, eu não estou dizendo pra você se apaixonar por todas as mulheres com quem você transar de primeira. Porque não é isso que conta, existem milhares de outros fatores. A questão aqui é que isso não deve contar. A tarefa aqui é fazer isso não contar. É uma tarefa foda, e eu não acho que eu vá conseguir completá-la. Talvez essa tarefa nem seja minha, eu estou aqui mais pra apresentar o diagnóstico. Você, que desconstruiu um monte de coisas na sua vida de homem pró-feminista, tem que desconstruir mais isso. Mas assim, de verdade, não só no discurso, da boca pra fora. Você tem que acreditar nisso. Porque se você não fizer isso, você vai ser – na prática – só mais um daqueles machistinhas de merda. E você não quer isso, né? Pois é, nem eu.

– Por B.V.T.

12 comentários sobre “Você não me quer livre

  1. Eu discordo, pois, paixão e amor são coisas diferentes. Já amei quem transou comigo na primeira noite, horas depois do primeiro beijo, e já me apaixonei por pessoas com quem sequer transei… Amor, prezada autora, é acima de tudo dar uma chance a ele. E depois vem a parte mais difícil, pois, como disse um desses monges, “para o amor, dê asas pra voar, raízes pra voltar e motivos pra ficar”. O amor não é patológico como a paixão; não é obsessivo, não prende, não sufoca… Já amei alguém que nunca despertou a minha paixão, e nunca amei aquelas por quem já me apaixonei. Meu maior amor começou ali, numa transa depois do primeiro beijo… E não é isso que me livra do preconceito “machistinha de merda”.

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  2. Gente todas essas experiências fazem parte da existência humana, sabe no que tudo isso se resume? MATURIDADE. Hoje em dia é legal porque podemos vivenciar tudo, antigamente o padrão “machista de merda” era o que determinava o relacionamento e a maioria das mulheres (mesmo não querendo) tinham que se submeter ao casamento, família e o lar. Rolava todo aquele cerimonial e ainda acontece isso, mas nada é obrigatório nos tempos modernos… Somos livres para viver o que nos convém, no meu ponto de vista excessos não é liberdade pelo contrário é aprisionamento. Excesso é o mesmo que vício, que gera a depressão e o mal estar… Resumir a relação homem e mulher numa cama é horrível, por isso que dou valor para a amizade! A real que tanto o homem e a mulher precisa se sentir respeitado, falo de uma verdadeira amizade… Não daquela palhaçada que muita gente faz só para não se comprometer! É amizade mesmo, aceitar o jeito do outro, compreender as diferenças, naturalmente as coisas acontecem e a única regra aqui é você tomar a atitude dessa relação para se tornar algo sério ou o outro toma a atitude, óbvio que vai ser algo bem dramático! Porque além do mais a coisa está ficando séria rs… Tá rolando tesão hehe… Bom, como existe um laço de amizade o sexismo não é mais importante e aí ninguém fica em guerra! FAÇA AMOR NÃO FAÇA GUERRA….Fui!!!

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  3. Olá, primeiramente, gostei da sua colocação e acredito que você esteja sendo o mais sincera possível nestas palavras, mas gostaria de ressaltar algumas coisas. Seu texto me pareceu um pouco generalizador, e você entenderá o porque mais ao final. Acredito que você se refira a uma classe de homens, não a todos eles, mas não é o que parece. Veja, eu sou homem e me apaixono de tal maneira que da até dó! No meu caso, compartilho suas colocações, apesar de estar do “outro lado”. Minha maior paixão, começou com uma incrível transa no primeiro encontro, durou 6 meses e destruiu minha vida antiga, digo antiga, porque hoje tenho uma nova e melhor. Mas hj, tenho duas amigas”coloridas”, coisa que ano passado não passaria pela minha cabeça de ter, e hoje, mesmo tendo essas duas pessoas, prontas para transarem e afim de faze-lo a hora que elas ou eu bem entender, não me sinto completo. Estou escrevendo isso porque eu acredito, de verdade, que tanto eu, quanto você, estejamos procurando, ou nos aproximando do mesmo padrão de pessoas. e isso pode ser mudado.

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  4. EU NÃO GOSTO DE MUITA CONVERSA CADA UM TEM UM NODO DE PROSEDER VIVA O HOJE AME ,CHORE SORRIA FASA SEXO NO FUNDO É ISSO QUE TODOS NOS QUEREMOS SEJA HOMEM O MULHER O IMPORTANTE É VIVER

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